Paris – loucuras visuais

Fotografar Paris é uma tarefa extasiante e ao mesmo tempo ingrata. É mais ou menos como querer colecionar selos sem definir uma temática, ou seja, praticamente impossível, tamanha são as possibilidades visuais.

No entanto, a primeira impressão visual que tive de Paris não foi das melhores. O Aeroporto de Orly, por onde entrei, tinha aparência bastante castigada, isso para não ser muito pesado na crítica. Desde o setor de desembarque e bagagens até a saída, só vi corredores vazios e repletos de sinais de falta de manutenção. Já estive em vários aeroportos bem melhores no Brasil. Talvez a sensação tenha sido um contraponto ao que vi em Madrid, onde escalei antes de desembarcar na capital francesa. O Barajas (aeroporto internacional da capital espanhola) é coisa de outro mundo! Ao fazer a conexão, por exemplo, tive de passar pelo freeshop madrilenho. Coisa de tirar o fôlego e arrebatar a carteira de compradores compulsivos, o que, definitivamente, não é meu caso. Graças à ” Diós”!
Bom, depois de pegar minha bagagem no Orly, rumei para a saída, onde logo fui abordado pelos ansiosos taxistas de aeroporto, ávidos para oferecerem seus préstimos, “atacando” os desembarcados como uma matilha feroz de lobos. No entanto, como minha intensão, fruto de planejamento prévio, era tomar o transporte público, logo “tasquei” uma das poucas frases que decorei na língua local: je ne parle pa frances. O sujeito, então, nem tentou desenvolver nova tratativa. Feliz por ter me livrado do taxista, fui ao guichê de serviço do Orlyval, um trem elétrico que conduz os passageiros interessados em tomar o transporte público parisiense. Paguei € 11,65 pelo bilhete, que já incluía o valor do outro trem até Paris.
Sinceramente não achei nada barato o preço, considerando que comprei o Euro a R$ 3,30. Mas vi que tudo é caro na Cidade Luz! Um refrigerante em lata, por exemplo, normalmente custa € 2,50, o equivalente a quase R$ 8,00. Um lanchinho estilo McDonalds, com hambúrguer, fritas e refrigerante, sai, em média, € 10, ou seja, mais de R$ 33,00. Quase “falido” logo no primeiro dia na cidade, ao final da tarde acabei apelando para um mercado, onde paguei € 1,00 pelo refrigerante.
Voltando à questão do transporte, reitero que achei muito bacana. Eles oferecem linhas de trens, que chamam de RER, e de Metrô, divididas por números e cores. Há pra todos os lados da cidade. O bilhete custa € 1,65, e você pode usar o mesmo por algum tempo. Importante dizer que não se deve jogá-lo fora porque, para sair da estação, você precisará dele. Eu tinha lido sobre isso e, assim, não passei apuro. E é fácil comprá-los. Além dos guichês, existem máquinas automáticas, que aceitam até cartão de crédito ou débito. Eu comprei meus bilhetes com meu cartão pre-carregado. Foi fácil, fácil.
É engraçado como a gente se prepara para algumas situações. Uma delas dizia respeito à hospitalidade dos parisienses. Não sei se é pelo meu jeito despojado, mas não senti a tal “frieza” que tanto me alertaram. Por outro lado, constatei que uma até então lenda para mim, se confirmou. Por várias vezes senti um odor desagradável exalado por alguns locais. Acho que tem muita gente aqui que não curte tomar um banho, pelo menos de vez em quanto.
Percebi que Paris é uma cidade múltipla no quesito diversidade populacional. Na região onde fiquei hospedado, perto da Gare Du Nord, havia muitos africanos, provavelmente oriundos de países que foram colônias francesas, como Guiné e Costa do Marfim. Da mesma forma me deparei com árabes e chineses, o que me ajudou na questão gastronômica. Definitivamente, não fiquei muito à vontade com a culinária francesa. Assim, não titubeei em apelar para um kebab ou um frango xadrez.
Falando em estrangeiros de países que normalmente vivem em conflito, uma coisa me chamou a atenção em Paris. A presença de muitos soldados franceses, fortemente armados, pelas ruas da cidade. Certamente é uma ação de contingência para inibir possíveis atentados, como o que aconteceu na redação do jornal Charles Hebdo, faz pouco tempo.
Falando do hotel. O lugar onde me hospedei, o Paris Liege, cumpriu sua finalidade. Afinal, eu só precisava de uma cama onde dormir e um chuveiro com água quente, para tomar um bom banho. Aliás, falando de água quente, não sei se foi só impressão, mas acho que os parisienses são “chegados” a uma água quente na torneira. Nos banheiros públicos em que fui e no hotel, abria a torneira e lá estava a água quente, quase fervendo. Não gostei muito de escovar o dente com a água naquela temperatura. Mas, voalá!
Como ia ficar só um dia em Paris, e ele estava lindo, ensolarado, resolvi fazer vários passeios, apesar de morto de cansaço por conta da viagem de mais de 10 horas, desde São Paulo. Meu único compromisso agendado era visitar o mais importante cartão postal da cidade, a Torre Eiffel. Mas, antes fui até a outra estrela turística parisiense, o Arco do Triunfo e a Champs Eliseé. Por causa do tempo, tirei muitas fotos bacanas. Mas queria ter feito uma especial, com minha lente Fisheye, o que não deu, porque teria de pagar para chegar mais perto.
Finalizada minha missão no Arco do Triunfo, resolvi andar a pé até o lugar onde ficava a Torre Eiffel, pela Avenide Iená. É bastante tranquilo andar em Paris. Quase toda cidade é plana, bem diferente de São Paulo. Havia muitas embaixadas naquele caminho. Pena que não vi a do Brasil. Uma em especial, me chamou a atenção, a do Irã. Muito bonita, tinha duas estátuas interessantes, a ponto de eu querer sacar minha câmera para disparar. Foi aí que aconteceu um negócio engraçado, mas só por agora, que passou sem conseqüências. Eu enfiei minha câmera pelas grades da embaixada iraniana e meti o dedo no gatilho da máquina. Logo depois surgiu um sujeito esquisito, que me olhou mais esquisito ainda. Mas ele não disse nada. Deve ter percebido, pela minha cara de mané, que só era um turista interessado na história das estátuas. Só para constar que no muro da edificação havia duas placas contando a histórias dos personagens retratados. Já pensou se o sujeito resolve me encarar como um espião?
Depois de alguns cliques no caminho, finalmente veio a bela visão da Torre Eiffel. É uma sensação muito legal. Olhar de perto algo que você viu milhares de vezes em vídeo, livros e no cinema. Fiz a festa com a câmera! Tirei fotos de vários ângulos e abusei da lente Olho de Peixe, a Fisheye. O lugar estava repleto de turistas. Deve ser assim nos 365 dias do ano.
Após fazer a festa no entorno da torre, peguei meu ingresso, comprado antecipadamente pela internet (GetYourGuide), e subi até o segundo nível, onde estão as lunetas de observação. Realmente, como consta em todos os guias que li, a vista é de tirar o fôlego. Lá em cima, lembrei-me de um velho videoclipe do Duran Duran, “A View to a Kill”, filmado justamente naquele local. Tirei mais outras tantas fotos, conheci o trabalho de Gustave Eiffel, o engenheiro que projetou a estrutura e parti para a próxima atração, a Catedral de Notre Dame.
Olha que já vi muitas igrejas bonitas, mas Notre Dame é algo impressionante, ainda mais por se tratar de uma construção medieval. Fiquei fascinado pelas colunas e vitrais.
Cansado pelas andanças do dia, voltei para o hotel e desmaiei. Eram mais ou menos 19 horas e sol ainda estava firme no céu. Acordei perto de 21 horas e fiquei impressionado por ver que ainda havia claridade. Os dias aqui são mais longos na primavera e devem ser ainda mais no verão. Verde de fome, resolvi não gaste muito e fui a uma espécie de mini mercado local, onde comprei água, salgados, banana é uma latinha de GINI. Nossa, há anos que não tomava uma Gini.
Ao final, resolvi comprar um kebab (comida árabe) de frango com queijo e fritas. Gastei 7 euros. Valeu a pena! Parecia aqueles lanches dos quiosques (os caprichados).
Voltei ao hotel, tomei um belo banho e dormi, para encarar a viagem no Eurostar, rumo a Londres.

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